A importância do conforto acústico na saúde

Publicado em 05.08.2021
Conforto acústico e a saúde
O som permite comunicar e percecionar tudo o que se encontra à nossa volta, uma vez que está presente em toda a parte. O sentido de audição, na sua perspetiva evolutiva, permitiu aos seres humanos a par com os outros sentidos, percecionar o perigo e ameaças presentes no meio natural.

 

Todas as sonoridades que nos rodeiam são muito díspares relativamente aos sons para que a nossa audição foi apurada, isto porque o ser humano vive hoje rodeado de tudo o que chamamos e reconhecemos como poluição sonora – ou seja, o conjunto de ruídos (sons indesejáveis) que perturbam a capacidade de concentração e a qualidade do descanso. Esta situação, acontece sempre que pensamos em qualquer veículo que se possa deslocar produzindo ruído devido ao movimento das suas peças e do ar à volta do mesmo. Neste sentido, quando se pensa na criação de todo e qualquer edifício habitável é impreterível estudar o isolamento acústico – esta é uma das funções que os elementos que compõem a envolvente devem desempenhar: a função de isolamento acústico.

Esta temática está presente no cerne de discussão sobre saúde pública, de acordo com os dados apresentados a seguir:

  • Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1 milhão de anos de vida saudável são perdidos anualmente como consequência do ruído ambiental;

  • A Agência Europeia do Ambiente estima que na União Europeia, a excessiva exposição ao ruído seja responsável a cada ano por cerca de 10.000 mortes prematuras, 43.000 internamentos hospitalares e 900.000 casos de hipertensão arterial;

  • De acordo com estudos publicados na prestigiada Revista Lancet, não só a hipertensão, como também a ocorrência de enfartes do miocárdio, estão correlacionados com os níveis de exposição ao ruído do tráfego aéreo e rodoviário, sendo que este último apresenta também correlação com a incidência de acidentes vasculares cerebrais (AVC).

Quando centramos esta questão em Portugal, a percentagem de habitantes em zonas urbanas expostas a níveis de ruído rodoviário excessivo é superior em comparação a países como o Reino Unido ou a Alemanha, com um aumento em mais de 20% entre 2012 e 2017, este número contempla também uma elevada franja de população residente em zonas não-urbanas. Quando nos reportamos à exposição de ruído de tráfego aéreo, Portugal lidera com a maior percentagem de ruído em toda a Europa.

Ao escutar a palavra INSALUBRE, que significa “que não é bom para a saúde”, isto é, partindo do pressuposto que muitos edifícios não asseveram a proteção contra o ruído exterior, descurando o grau de prejudicialidade – podemos afirmar que edifícios com estas características estão a proporcionar um ambiente insalubre aos seus utilizadores. Tudo isto leva a que não se deva dar atenção apenas à envolvente externa dos edifícios, na sua conceção e execução, mas também ao ruído transmitido nas diferentes frações, até mesmo entre compartimentos de uma mesma fração, podendo constituir-se como um fator de desconforto e, como tal, de insalubridade.

A pandemia que vivenciamos e os confinamentos a que estivemos sujeitos colocaram visíveis as fragilidades dos edifícios no que se refere ao isolamento acústico, em particular entre as diferentes frações.

Por último, é relevante mencionar as escolas, isto porque muitas das salas de aula das nossas escolas apresentam um tempo de reverberação excessivo, dificultando a inteligibilidade daquilo que o docente pretende transmitir, logo cumulativamente com a exposição ao ruído exterior, o que leva a um aumento do tempo de aquisição de competências, como por exemplo, capacidades de leitura ou aprendizagem de línguas estrangeiras.

A ausência de consciencialização das pessoas para a importância do conforto acústico, leva muitas vezes à falta de qualidade acústica dos edifícios. Uma das possíveis soluções para melhorar o desempenho dos elementos dos edifícios nesta discussão seria a implementação em fase de construção, podendo ser enquadrado em operações de reabilitação.